adios amigos
Há 10 anos
Tchim, tchim ao efémero. Ver, cheirar e sentir
A lindíssima modelo holandesa Lara Stone (1983) é o prato forte da Playboy de França. Que diferença entre a rasquice da revista portuguesa onde entram as "brunas" e outras figuras das telenovelas com um aspecto ordinareco e sem estilo. Nada se aproveita, nem as fotos nem os editoriais. A vulgaridade total.
A reputação do homem que venceu sete vezes o Tour de France está a ser manchada com as acusações do seu companheiro de equipa. Floyd Landis garante que o viu dopar-se várias vezes e até fazer transfusões sanguíneas. Entretanto surgem artigos nada abonatórios sobre o passado wild do ciclista e do contexto social e familiar onde cresceu. Esta imagem do Village Voice deixa no ar a hipótese de Lance Amstrong ser um mentiroso. Nós sabemos bem o que isso é, também temos cá um pinóquio.
Não aparece nos "meios" mundanos das artes plásticas, prefere viver isolado numa povoação com 2300 habitantes lá nos confins da América profunda. Mas é um artista muito criativo. Houve já quem associasse a sua sensibilidade à de Joy Divison. Em Chelsea, na Horton Gallery, Peter Gallo apresenta Time for Motherfuckers.
Fartei-me de rir com a crítica do New Yorker ao Crosby Bar. Péssima comida, bebidas a 18 dólares e, para cumulo das desgraças, um ambiente pretensioso onde se cruzam "arquitectos com sapatos Prada, bacharéis de Jersey a caminho do Karaokes do East Village e holandeses gentis acompanhados das mães". O bar do Standard Hotel é do mesmo género, não destoa do figurino yunnie.
Sempre que estou em Nova Iorque vou tomar um copo ao Glass Bar. Desenhado em 2001 pelo arquitecto Thomas Leeser, que optou por um linha futurista sustentada pela leveza do plexiglas, é um dos espaços mais relaxantes de Chelsea. Tem um jardim de bambus para fumadores e as casas de banho proporcionam uma experiência fantástica.
Poeta beatnick publicado em diversas antologias, Tuli Kupferberg morreu com 86 anos na sua casa de Greenwich Village, em Nova Iorque. Fundou em 1964 The Fugs, "a primeira verdadeira banda underground do East Village", segundo o crítico de música do Village Voice. Guardo como uma relíquia o LP Kill for Peace deste grupo anarco-político a que pertencia também Ed Sanders e Ken Weaver.
Apresenta na Gagosian Gallery em Londres, uma exposição que inclui 14 aguarelas de grande formato. Francesco Clemente já não é a estrela que foi nos anos oitenta. Confesso que o seu eclético corpo de trabalho nunca me entusiasmou. Mas tem um percurso de vida nómado bastante interessante. É um indivíduo culto, inquieto e místico. Quando se fixou em Nova Iorque, depois de viver durante cinco anos na Índia na rota dos ashrams, ainda chegou a colaborar com poetas beat como Allen Ginsberg ou Gregory Corso.

Eis uma revista chique e cult com muito sumo que marcou o inicio da década de cinquenta. Foram publicados apenas 12 números, mas durante esse breve espaço de tempo mostrou que poderia vir a ser o embrião da linguagem cool. A produção custava uma fortuna, graças à utilização de diferentes espécies de papel e às capas altamente criativas. Dispunha de colaboradores da elite intelectual como Jean Cocteau, Salvador Dali, Tennessee Williams ou Simone de Beauvoir. Até a antropóloga Margaret Mead escreveu uma ensaio sobre a cultura americana e Winston Churchill contribuiu com uma pintura. Fleur Cowles, uma mulher sofisticada e inteligente, era a editora chefe da Flair. Amiga de reis, políticos, escritores e estrelas de cinema ninguém se atrevia a dizer-lhe não. Numa entrevista, a propósito de um livro que escreveu sobre Evita Peron, relatou: When she realized that I was an editor of a big magazine and that I was rich, I was blonde, I was wearing jewelry, she thought "well, this is someone I can make a friend of. She can be useful." I did everything with her for weeks, and when I left, I was determined to tell the world what a hideous, dreaful, revolting, horroble woman she was. When they heard that Random House was publishing my book, they sent a man to kill me. The FBI caught him and sent him bak to Argentina".
Quando no início da década de 90 comprei em Nova Iorque o livro Interviews de Djuna Barnes fiquei com vontade de descobrir a personalidade literária desta escritora americana que é considerada como uma das mais famosas shut-in do movimento modernista. Logo de seguida li Nightwood, romance de culto prefaciado por T.S. Elliot que a Relógio D`Àgua acabou agora de editar com o título de O Bosque da Noite. Associada ao erotismo lésbico, Barnes descreve as vicissitudes de um triângulo amoroso onde se destaca Robin Vote, personagem decadente e sedutora inspirada em Thelma Wood, uma obscura artista plástica com quem manteve uma atribulada relação amorosa durante quase dez anos.
Acusada de adultério, esta iraniana com dois filhos, aguarda que se cumpra a sentença no corredor da lapidação. Isto acontece no país dos aiatolás. Citando o artistas plástico Gerhard Richter: "todas as ideologias são supérfluas e mortalmente perigosas". Discute-se a proibição da burka e há até quem subtilmente se atreva a dar explicações compreensivas. Depois há os mesmos de sempre que na sua cegueira nunca aprendem nada e que se tivessem poder eram perigosíssimos. What`s left? Assinei uma petição da amnistia internacional. Não pactuo com islamo-fascistas.
O lendário Fedora, um dos mais antigos restaurantes da West Village, vai fechar no dia 25 de Julho. Estava ali, meio escondido numa cave da 4th Street, desde 1942. Pintado de rosa-velho, com as paredes cobertas de fotografias de clientes famosos, tinha um charme decadente. Cheirava um pouco a mofo, mas Fedora Dorato nos seus 90 anos nunca descurava as flores frescas das jarras que ornamentavam as mesas. Mantinha um menu fixo baratíssimo e uma clientela muito peculiar, incluindo ainda alguns activistas de Stonewall que aplaudiam a anfitriã quando ela aparecia na sala com os seus vaporosos vestidos e a maquilhagem carregada. Vendo-a naquele cenário lembrava-me da personagem do filme Fedora de Billy Wilder.
Chegou aos Estados Unidos, fugindo de Hitler e do nazismo, com um breve passado de pintor e uma Rolleiflex por estrear como única bagagem. O seu olhar fresco inventou um país, os próprios americanos descobriram-se nas fotos de John Gutmann (1905-1998), um mestre que captou imagens tocantes .
O New Museum de Nova Iorque apresenta uma retrospectiva da multifacetada obra de Brian Gysin (1916-1986) que era um personagem incendiário. Paul Bowles, quando o entrevistei em Tanger na década de oitenta, descreveu-o como um homem luminoso e feliz. Precisamente-sublinhou- o oposto da figura de Gore Vidal. Era um nobre viajante do espírito que procurava casar as iluminações. Na sua juventude em Paris tinha pertencido ao grupo dos surrealistas donde foi expulso pelo papa André Breton. Foi do método surrealista e do consumo da canábis marroquina, que lhe saíu o cut-up. Mantinha uma paixão estética com William Burroughs e juntos investigavam os mecanismos de controlo. Inventou com Ian Sommerville a Dream Machine que era um cilindro cheio de fendas que, quando colocado numa mesa de mistura, emitia raios de luz. Em Tanger onde viveu largos anos, sempre na busca de formas literárias e pictóricas vanguardistas, abriu o lendário restaurante Mil e uma Noites. Ali actuavam os Master Musician of Jahjouka cujos transes musicais encantaram Brion Jones dos Rolling Stones.
"A arte é um processo de burocrático de manipulação cultural". Escritor, artista, cineasta e franco-atirador em muitas outras áreas. O inglês Stewart Home (1962) que se considera um anarquista "não em conformidade com a definição do dicionário" andou envolvido no movimento punk e no "situacionismo" de Debord e Veinegen. Ainda chegou a integrar uma banda chamada The Molotovs de que rapidamente se desligou por não suportar as "cassetes" do líder que pertencia ao "horroroso Trotskyist Party". Preferia, sem dúvida, as líricas obscenas dos Stooges. Radical, brilhante e divertido, organizou em Londres o "Festival do Plágio" no Ano Novo de 2009. Dos inúmeros livros que escreveu li Red London e Defiant Pose. Acabou de publicar Blood Rites of the Bourgeoisie e no dia 26 de Julho vai estar no Roxy Art House de Edimburgo. Ah...sempre considerou os marxistas-leninistas como uma cambada de reaccionários. Apoiado.
Saíu mais um número desta controversa revista inglesa. Lançada em 1998 pelo fotógrafo Andrew Richardson só aparece muito de vez em quando. Com uma atitude provocadora baseia-se numa mistura de sexo, política e arte. Entre os seus colaboradores distinguem-se Bruce LaBruce, Larry Clack, Jack Pierson e Stewart Home que tem uma cabeça fascinante.