segunda-feira, 31 de maio de 2010

Caetano Veloso

Não me interessa quem pediu para conhecer quem no encontro que reuniu Chico Buarque e José Sócrates. Só sei que Caetano Veloso nunca se prestaria a esse papel. Há uma diferença abismal entre os dois músicos brasileiros. Chico sempre teve a cabeça feita, sempre funcionou na base da cartilha. Já Caetano é um espírito livre que pensa pela sua cabeça. Fala desassombradamente sem medo das patrulhas. Foi sempre assim. Os choques entre Caetano e a chamada esquerda já vêm desde os tempos do tropicalismo. Disse que Lula da Silva era analfabeto, arrogante e cafona. E depois?

domingo, 30 de maio de 2010

Dennis Hopper (1936-2010)

Morreu ontem, derrubado por um cancro na próstata. Durante anos agarrado ao álcool e às drogas duras, no balancear de uma vida destemperada, nunca foi um actor de aviário como George Clooney. Vem do Actors Studio e pertencia ao círculo dos artistas plásticos nova-iorquinos. Fez em 1955 com James Dean, seu grande amigo, Rebel without a cause. Era o que ele era. Dos inúmeros filmes em que participou destaco Easy Rider, Blue Velvet e Indian Summer, uma fita dirigida por Sean Penn nos finais da década de 90 de que gostei muito.

Quatro pintores

Inaugurou ontem no Teatro Municipal da Guarda uma exposição que reune obras de Jorge Martins, Sofia Areal, Manuel Casimiro e Nikias Skapinakis que sublinhou: "são quatro artistas sem nada em comum, a não ser o gosto pela pintura". A produção é dos Artistas Unidos.

sábado, 29 de maio de 2010

Manhattan

By Peter HujarBy David Wojnorowicz
Entre 10 de Junho e 27 de Setembro vai estar no Museu Rainha Sofia, em Madrid, uma exposição com o título de Manhatttan, uso misto que reune imagens de Nova Iorque na década de 70. Centradas no West Side, junto ao rio Hudson, onde era visível o declínio dos espaços industriais. De Peter Hujar destaca-se a foto Candy Darling in her Deathbed que foi usada na capa do disco Y am a bird da banda Antony and Jonhsons. Mostra o transexual que participou em alguns filmes de Andy Warhol a morrer com Sida. Este fotógrafo captou como ninguém o "selvagem" Meatpacking Disctrit quando ainda ali se empacotava carne. Rimbaud in New York é uma foto do artista e activista David Wojnorowicz que acompanhou Nan Goldin nas descidas aos infernos. "Nunca tive uma educação artística, mas também não estou seguro do que isso seja...", comentou.

Pesadelos

"METAMORFOSES. Tenho da política uma ideia que não alinha em militâncias impostas. A imposição de uma razão ou de um modo de estar sempre me afastou dos prosélitos intentos dos propagandistas dos amanhãs com rumo certo e inquestionável. É por isso que não tenho qualquer militância e recuso as acusações bastante bem urdidas que tentam atingir quem bebe deste gargalo. Sei dizer que nunca estive de acordo com Manuel Alegre. Andámos sempre desencontrados. Quando ele combateu a esquerda que agora o apoia, eu vagueava nessa esquerda. Agora é ele que defende as novas esquerdas revolucionárias sem que um pingo de vergonha o atinja. Não há arrependimento que lhe mova uma opinião mais afoita sobre o assunto. É a lei do vale tudo. Em política isso está muito na moda. Mas há modas em que não alinho. Não tenciono votar em Manuel Alegre. Não precisamos para nada de um presidente-poeta. Como as coisas andam, até já tenho dúvidas se precisamos de um Presidente..."
Assino por baixo este texto BlogOperatório. Aprecio o trabalho gráfico do José Teófilo Duarte e também gosto da maneira como, às vezes, dá asas à liberdade de pensamento. Só não concordo com a defesa que faz do PS de Sócrates que não é flor que se cheire. Os valores de Manuel Alegre são os que estão em sintonia com a sua infinita vaidade. É triste, se por uma eventual fatalidade, tivermos de gramar com aquela ridícula figura na presidência.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Caricaturas

Publicado em 1997, o livro de Candace Bushnell teve um enorme sucesso. " É sexta à noite no Bowery Bar. Lá fora neva e cá dentro está a abarrotar. Está cá a actriz de Los Angeles com um delicioso ar de quem caíu aqui de pára-quedas, de mini-saia e blaser cinzento em vinil, acompanhada de um sujeito cheio de fios dourados até dizer chega..." Esta é uma passagem onde se fala também do sexo em Manhattan que produz amizades e negócios empresariais e não romances. Depois vieram as séries e os filmes. Este último foi considerado o pior filme do ano, todos os críticos sérios zurziram naquelas quatro mulheres empoleiradas nos "manolos" e carregadas de sacos de compras que afectaram negativamente a imagem da cidade e da mulher nova-iorquina. "These people make my skin crawl", sublinhou um crítico de cinema.

East Village

É verdade. "People use to come to New York because they were hungry and that hunger drove creativity and art and positive things" (Ed Grieve). Agora nada de válido pode ser criado aqui. Há ainda, no meio da asséptica "revitalização" do bairro, alguns resistentes. Até quando? Passei pelo Pyramid Club que se instalou na Avenida A em 1974. Ainda lá continua aberto, sujo e familiar. Guarda a memória da cultura nova-iorquina dos anos oitenta. Ali deram os seus primeiros concertos em Nova Iorque os Nirvana e os Red Hot Chili Peppers.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bang, Bang

Começo a ficar farta de Marc Jacobs. Tem seis lojas na West Village e tal como os cupcakes da Magnolia Bakery fazem salivar os turistas tontos que pretendem ser trendy. "We dont`t get CBGB, we get John Varvatos. We Don´t get Andy Warhol, we get Marc Jacobs". Não são nada, apenas simulações com altos preços.

The Kitchen

Frequento the Kitchen, uma instituição cultural non profit fundada por um grupo de artistas em 1971, desde meados dos anos oitenta. Na época era uma aventura transitar pelas ruas junto da 10ª avenida, um deserto medonho onde só havia camionistas e prostitutos masculinos. Nunca aconteceu nada. Hoje The Kitchen está inserida no perímetro das galerias de Chelsea. Tendo no corpo directivo figuras como Philip Glass (chairman), Meredith Monk, Robert Soros e Laurie Anderson continua com os mesmos programas de vanguarda que abrangem vídeo, performance, musica, dansa, filmes, literatura e artes plásticas. Assisti lá a um concerto fabuloso de Kevin Shea`s Lonely Gold Mine of Symbiotic Subterfuge. Fundador do Duo Talibam com Mattew Motel, numa altura em que a cultura se tornou conservadora, é uma das bandas mais fascinantes e poderosas de Nova Iorque. Apresenta excitantes shows ao vivo numa linha dadaista e inteligentemente provocadora. Já lhe chamaram o punk Coltrane.

230 Quinta Avenida

Já não suporto os bares de certos hotéis que estão a abarrotar de gente horrível, dos chamados yunnies e bridges and tunnels. É o caso do Plunge do Gansevoort Hotel onde entrei e saí rapidamente. Acabei por ir tomar um copo ao 230 da Quinta Avenida. O bar, cujo dono é o coleccionador de arte Steven Greenberg, fica no 20º andar do antigo Victoria Hotel e tem uma vista espectacular. Lembra vagamente o Studio 54, mas a fauna também não se recomenda.

Cafe Colonial

Na esquina da Elizabeth com a Houston desde 1994, este café-restaurante cubano com um cheirinho de comida brasileira também fechou há uns dias. A dona não conseguiu suportar o brutal aumento da renda. Adorava os mexilhões, a moqueca de camarão, a decoração em tons de azul do Colonial e o ambiente humano. Leonardo DiCaprio era um cliente fiel do brunch de domingo. Várias organizações de moradores não se cansam de protestar contra a morte da cidade, apontando o dedo aos especuladores imobiliários, aos tubarões da restauração como Brian McNally e às futilidades da série Sex & City com aquelas mulheres horrorosas. "New York is pretty much comercialized to the point of no return" (Chris Noth)". Fui muito feliz ali no bairro, quando vivi no East Village que está a ficar completamente descaracterizado.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Empire Diner

Acabei de saber que o Empire Diner, após trinta anos de uma frenética actividade na 10ª Avenida em Chelsea, fechou no dia 15 de Maio. Com o seu interior cromado e preto, as letras deco e a mistura de pessoas era um dos sítios preferidos de Andy Warhol. Actores, galeristas, comissários de polícia e gangsters cruzavam-se ali todos os dias. Adorava tomar lá o pequeno-almoço, antes de partir para a rota das galerias. Só lamento que o Renato Gonzalez, o manager desde 1986 daquele icónico espaço, não me tenha avisado. Sem dúvida que Nova Iorque está a perder a alma, agora só atrai turistas chichis que procuram os hotéis de luxo e os restaurantes recomendados pela Wallpaper e outras revistas destinadas a encher o olho da burguesada.

Scott Campbell

É ainda das raras figuras que conserva um verdadeiro espírito downtown. Amigo íntimo de Dan Colen e do falecido Dash Snow começou na arte da tatuagem em S. Francisco onde tinha como clientes os jovens membros dos gangs mais rebeldes da cidade. Mudou-se para Manhattan em 1995. Actualmente, os corpos das vedetas de cinema como Orlando Bloom, Robert Downey Jr e outros ostentam os rebuscados desenhos deste artista que até os galeristas nova-iorquinos mimam. Só para quem estiver interessado, ele pratica o preço de 300 dólares à hora.

The Smile

Fui jantar ao The Smile, na Bond Street, porque gosto do ambiente e da decoração fora do trivial design. Mas o motivo principal era encontrar Scott Campbel, o lendário artista de tattoos que tinha um estúdio na cave do restaurante. Fiquei a saber que se mudara para Williamsburg, até me deram a sua morada que noutra altura visitarei. Mas comi bem, o carneiro picante estava óptimo.

domingo, 23 de maio de 2010

Little Branch

Ali neste bar cavernoso tomam-se os melhores cocktails de Nova Iorque. É um sítio quase secreto, sem nada escrito na porta que dá ideia de estar sempre fechada. Completamente old fashion na decoração, tem o mais premiado bartender da cidade. Sam Ross, um australiano com rabo de cavalo, ganhou fama no mundo inteiro como shaker boy. Infelizmente não o encontrei nessa noite no Little Branch, o que foi decepcionante. Ainda pensei em voltar noutro dia mas ando sempre a mil à hora em Nova Iorque.

Brasserie

Sempre que estou em Nova Iorque não me canso de admirar o Seagram Building, uma obra de Mies van der Rohe. Coube, no entanto, a Philip Johnson desenhar em 1958 os restaurantes Four Season e Brasserie que estão integrados no mítico edifício. Almocei na Brasserie que em 1995 foi redesenhada por Diller+Scofidio, a mesma firma de arquitectura que fez o projecto da High Line. A comida de inspiração francesa não me entusiasma, mas gosto muito da modernidade daquele espaço.

The Lipstick Portraits

São 65 imagens com a assinatura Michael Angelo. Para esta exposição, cujo benefício reverte a favor da Somalia Mam Foundation foram fotografadas figuras como Susan Sarandon, Kate Moss, Dita Van Teese, o ícone transexual Amanda Lepore bem como diversos modelos maculinos e femininos. O conceito assenta na luta contra a escravidão sexual praticada em certos países africanos. A mostra que estava na 401 West, no Meatpacking Distrit, termina hoje.

sábado, 22 de maio de 2010

Jonathan Horowitz

Inaugurou também no segundo espaço da Gavin Brown Enterprise a exposição Go Vegan! que fez as delícias dos anti-carnívoros. Há quem diga que Jonathan Horowitz é um dos mais inteligentes artistas americanos vivos. Não acho. Embirro até com os seus básicos conceptualismos e das mensagens metidas a martelo. A mostra envolve fotos de animais e de 200 celebridades que se declararam publicamente vegans. Lá aparecem Tina Tunner, Alec Baldwin, Bob Baker, Paul McCartney e outros. Apresenta ainda uma escultura de tofu. Ora bolas, apeteceu-me ir logo a correr comer um bife.

Martin Creed

Domingo, 9 de Maio. Depois de andar às voltas na West Village lá encontrei a nova galeria de Gavin Brown Enterprise. Inaugurava duas exposições, uma delas do inglês Martin Creed que também se intitula musico, condição em que já se apresentou no Lux, em Lisboa. Em 2001 ganhou o Turner Prize com a instalação Lights Going and Off que consistia no acender e apagar das luzes numa sala. Uma perfeita aldrabice, de resto na minha modesta opinião aqueles júris do Turner ainda não acertaram uma. Desta vez a obra de arte era um "arranjo" de pedreiro do chão da galeria que envolvia cem tipos de mármore, formando riscas de muitas cores e texturas. As paredes estavam vazias. Encontrei um tipo divertido a quem pedi o mini cão emprestado para o colocar no cenário, a ver o que aquilo dava. Seria óptimo que fizesse uma mijadela, mas infelizmente não aconteceu nada. Ah...a música da violinista oriental era extremamente irritante. Pirei-me logo dali para fora.

William Kentridge

Five themes é uma impressionante retrospectiva do artista William Kentridge (Jonesburgo, 1955). Reúne três décadas do seu trabalho num registo onde a política se combina com a poesia. Usa desenho, colagem, teatro, performance e filmes digitais. Com base no absurdo da short story The Nose do escritor russo Nikolai Gogol apresenta a performance Y am not me, the horse is not mine e um filme de 35 minutos sobre as purgas estalinistas, sendo Bukarine o personagem principal que foi condenado à morte em 1938 num daqueles kafkianos processos de Moscovo. Foi uma das melhores exposições que vi em Nova Iorque.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Lil Picard

Com Patricia Highsmith
Vi na Grey Gallery da Universidade de Nova Iorque uma retrospectiva de Lil Picard, o nome de guerra de Lilli Elisabeth Benedick, que desempenhou um papel relevante na contra-cultura americana das décadas de 50 e 60. Nascida em 1899 na Alemanha iniciou a sua carreira em Berlim como artista de cabaret, designer de acessórios e jornalista. Escapou à guerra e fixou-se em Nova Iorque que na altura (e ainda é) era o centro das artes. Nos anos 40, tornou-se uma amiga próxima da escritora Patricia Highsmith que a introduziu nas galerias e nos meios culturais. Com 65 anos fez a sua primeira performance no Go Go Cafe. Frequentava a Factory de Andy Warhol e os movimentos feministas que condenavam a guerra do Vietnam e a manipulação das mulheres pelos media. Transportava aspectos e experiências da sua vida pessoal para a obra artística que abarcava pintura, colagem, desenho, escultura, fotografia, objectos trouvés e etc. Frequentemente utilizava palavras nos quadros, à maneira dos dadaistas e surrealistas, manipulando os materiais com a finalidade de realçar um certo sentido do grotesco. A partir dos anos 50 começou a incorporar cosmésticos e utensílios de beleza ns suas assemblages. Morreu em 1994 com 94 anos. "The situation of a woman as a painter in NY (at my age) is not easy to handle", escreveu ela no diário em 1960.

Yippie Museum Cafe

Estive a tomar um chá de camomila no Yippie Cafe onde o tempo parece ter parado. É um ponto de encontro dos velhos militantes da new left americana. Dos velhos rebeldes sem causa. Há sofás, mesas com livros para consulta de Abbie Hoffam e Jerry Rubin, pins, fotografias nas paredes de acontecimentos marcantes como a National Democratic Convention ocorrida em 1968 em Chicago. Deparamos com alguns visuais de sessentões ao estilo da época. Ali acontecem sessões de poesia e concertos com bandas desconhecidas mas dentro do contexto. No dia 2 de Maio houve um show da banda de John Sinclair (Michigan, 1941), cujo percurso acompanhei nas páginas da revista Actuel. Fundou em Detroit, além de diversos jornais e revistas radicais, o White Panthers Party. Entre 69 e 71 foi manager e autor das letras da banda MC5 (Motor City Five) que esteve na génese do punk. Apanhou dez anos de prisão por ter dado dois cigarros de marijuana a um informador da policia. Apesar dos estragos do tempo, continua indomável. Volta e meia anda por Berlim e Amesterdão onde na qualidade de ícone da contra-cultura tem muitos fãs. Recentemente foi apresentado um filme sobre a sua vida no Anarchist American Festival, em Nova Iorque. Confesso que achei aquilo tudo um pouco patético. Mas ao menos estes, com quem simpatizei imenso, nunca tiveram um chip na cabeça nem provocaram aberrações terríveis como os marxistas-leninistas.