segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A detestável Madonna



Fui ao concerto de Madonna no Coliseu porque uma pessoa amiga me ofereceu o bilhete. Já sabia que ia fazer um grande frete porque sempre detestei a personagem. E nesse aspecto o concerto não defraudou as minhas expectativas. A produção era péssima, as coreografia pobres e até foleiras. No cenário abundavam os comentários políticos. Na abertura do set, sobressaía uma frase de James Baldwin (os artistas estão aqui para perturbar a paz) e tiros para apresentar o seu hino anti-armas de fogo "God Control", repetindo-se ao longo do espectáculo o aviso Wake Up, agora muito em voga nos sectores pseudo de esquerda americana. Na salgalhada das suas versões activistas, fez uma homenagem às mulheres marroquinas introduzindo Come Alive com tendências sónicas da música Gnawa. Os instintos de Madonna, agora com 61 anos, já não me parecem tão astutos como dantes. Ao contrário de Michael Jackson os supostos escândalos dela foram sempre premeditados. Lembro-me da simulação da masturbação no Blonde Ambition. E as frases oportunistas: "eu serei o Islão, se o Islão for odiado, eu serei Israel se os judeus forem encarcerados". No Rebel Heart comparou-se  a Martin Luther King e a Mandela." O ego desta detestável mulher aparece sempre nas entrelinhas dos seus supostos projectos de "resistência" e luta. Fez um tributo pretensioso a Aretha Franklin na MTV Video Awards  2018. No irritante Madame X usa mais uma vez a política para mostrar que é uma revolucionária, numa triste época em que os discursos revolucionários fazem parte do establisment. Em 1990, o escritor Luc Sante escreveu: "Madonna é uma péssima actriz, uma cantora medíocre, uma dançarina sem graça, uma compositora sem inspiração e uma trabalhadora dura com uma ambição feroz".
Quando Madonna encarnou a figura da Dominatrix, emulando Marlene Dietrich e surgiu na Blond Ambition masturbando-se numa cama, não transmitia erotismo. Os homens hetero-sexuais achavam-na falsa e manipuladora . Era adorada pela cultura gay masculina e tornou-se uma estrela, sem ser original. Roland Barthes disse que o strip-tease é baseado na contradição- a mulher é dessexualizada no momento em que está nua" . Diverti-me imenso quando li o livro" I Hate Madonna Handbook" da jornalista Ilene Rosenzweig. Não é novidade a tendência ao exibicionismo, auto-promoção e hipocrisia da estrela do pop, nem que na sua trajectória ao estrelado ela usou e abusou de amigos e parceiros. A "virtude"do livro é que ele condensa todos os podres da cantora espalhados em biografias, filmes, artigos e entrevistas sobre Madonna.
O primeiro capítulo –"Buscando o Estrelado Desesperadamente"– traz uma lista de pessoa usadas por Madonna.que são classificadas por símbolos como botas brancas (pessoas pisadas), chicote (usadas sexualmente), cifrão (usadas para ganhar dinheiro), lágrimas para impressionar e falso feminismo.
O primeiro namorado, Steve Bray atraiu Madonna por ser baterista numa banda de blues. Ela acompanhou-o em todos os shows da banda no Michigan durante um ano e meio, aprendendo segredos do métier, e depois comprou uma passagem só de ida para Nova Iorque. Nem se despediu.
A socialite e estilista Maripol foi a responsável pelo primeiro visual vendável de Madonna, exibido na capa e vídeo do disco "Like a Virgin". Também lhe apresentou  ricos e famosos como Mick Jagger e Andy Warhol. Mas, em 86, Madonna decidiu mudar de visual sem avisar Maripol, cuja firma  faliu e ficou com caixas de cruzes de borracha no seu estúdio.A "pseudo-família" de Madonna (várias botas, chicote e cifrão) é formada por dançarinos retratados no filme "Na Cama com Madonna". Apesar de ela dizer no filme que são como "seus filhos", três deles processaram-na  por invasão de privacidade e fraude.
Segundo eles, Madonna primeiro disse que as câmaras no tour eram para um filme caseiro de consumo pessoal. Ao descobrirem que seria um filme comercial, Madonna afirmou ainda que os bailarinos teriam poder de veto sobre as suas cenas na cópia final. Não tiveram. A autora do livro apresenta uma lista infinita de cartões com a ficha dos amantes de Madonna (o primeiro, quando ela tinha 14 anos), Mick Jagger, Prince, Sandra Bernhard, Charles Barkley, Warren Beaty, Aboubakar Soumahoro, Brahim Zaibat, Jesus Luz, Alex Rodríguez, Andy Bird, Carlos Leon, Ingrid Casares, Jim Albright, Vanilla Ice, Tony Ward, John Kennedy Jr., Jellybean Benítez, Jean Michel Basquiat, Mark Kamins, Ken Compton, Stephen Bray, Dan Gilroy, Norris Burroughs, Mark Dolengowski, Christopher Flynn, Russell Long, Wyn Coope e etc. Há ainda relatos de como ela agrediu fãs de dez anos, humilhou colaboradores (incluindo o ex-marido, Sean Penn que foi acusado de lhe bater). Ou o condomínio San Remo, em Nova Iorque que a impediu de dividir o elevador com Diane Keaton, Paul Simon e Dustin Hoffman, entre outras estrelas que viviam no prédio." Em 32 anos de suor, Madonna nunca conseguiu o que Gypsy Rose  (Rita Hayworth, no filme Gilda) poderia fazer em dois minutos com uma luva. Ela não sabe cantar ("uma ovelha com dor", na estimativa esclarecida do crítico Dennis Hunt). Não sabe dançar. É má, diz a autora Ilene Rosenzweig, egoísta e gananciosa, manipuladora e cruel, "uma pessoa pequena com grandes axilas".
O concerto centrou-se em Lisboa e Cabo Verde, como fontes de inspiração. Além da apropriação cultural, ela persegue tendências sónicas que que não se encaixam no seu estilo de discoteca. Como a cantar Sodade da grande Cesária Évora. Sem alma.

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