O controverso escritor francês Michel Houellebecq disse na segunda-feira que acredita que o mundo será o mesmo após o coronavírus - apenas um pouco pior. O romancista, visto por seus fãs como um profeta moderno de uma era niilista e individualista, derramou água fria sobre aqueles que vêem a pandemia como um possível ponto de viragem. "Não acredito que 'nada será como era antes'", disse Houellebecq que alcançou fama internacional com o seu romance "Atomizado", de 1998. "Não vamos acordar após o confinamento num mundo novo. Será o mesmo, apenas um pouco pior", disse numa entrevista na rádio pública francesa. "O modo como esta epidemia se desenrola é notavelmente normal", argumentou. Descreveu o COVID-19 como um "vírus banal" sem "qualidades redentoras ... nem é transmitido sexualmente". E alertou que o auto-distanciamento e o "trabalho doméstico que a epidemia trouxe" acelerariam o impulso tecnológico para isolar e atomizar as pessoas. Foi uma óptima desculpa para impulsionar ainda mais a "obsolescência das relações humanas".
E ridicularizou escritores que compararam o momento ao seu romance apocalíptico de 2005, "A Possibilidade de uma Ilha", quando a raça humana está em vias de desaparecer."O Ocidente não tem o eterno direito divino de ser a zona mais rica e mais desenvolvida do mundo. Não é possível dizer que tudo acabou por um longo tempo", afirmou escritor que é casado com Qianyun Lysis Li, uma estudante chinesa 34 anos mais nova. "Até o número de mortos reflectia o mundo como o conhecemos. A França está se saindo melhor do que Espanha e Itália, mas não tão bem quanto a Alemanha. Não há grande surpresa por lá", sublinhou. Houellecq que também zombou de uma série de estrelas da literatura francesa por se pronunciarem sobre a crise a partir do conforto dos seus refúgios à beira-mar, sem esclarecer se ele tinha permanecido fechado na sua casa numa torre de Paris. Mas queixou-se de não poder dar passeios a mais de um quilómetro da porta da frente, sob as rígidas regras francesas.."Um escritor precisa andar", disse Houellebecq, de 64 anos, fumador viciado, está num dos grupos de maior risco do vírus. "Tentar escrever se não tiver possibilidade de caminhar por algumas horas num ritmo acelerado é extremamente desaconselhável", disse ele. "A tensão nervosa acumulada de pensamentos e imagens não se dissolve e continua a apoquentar a cabeça do autor, que se torna rapidamente irritável, se não louco."
Mas os seus pensamentos mais mordazes foram para o destino das pessoas mais velhas durante a pandemia, que muitas vezes morriam sozinhas em casas de repouso."Nunca foi tão alegremente explicado que nem a vida de todos tem o mesmo valor. Que a partir de uma certa idade - 70, 75, 80 anos? - é como se já estivéssemos mortos". O seu mais recente livro, "Serotonina" sobre um funcionário público deprimido que descobre a miséria da França rural tornou-se um best-seller instantâneo no ano passado, quando o movimento dos coletes amarelos começou a adquirir estatuto de verdadeira rebelião..
adios amigos
Há 9 anos
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