quarta-feira, 9 de agosto de 2023

A Bomba

 

A critica Eileen Jones da revista Jacobin diz que o realizador Christopher Nolan ignora os lados mais sombrios da vida e obra de J. Robert Oppenheimer para oferecer um espetáculo de grande sucesso que agrada ao público. Concordo mais com esta critica: é "um filme inovador, apesar do seu antipático protagonista". O físico nuclear foi uma vitima do macarthismo. "Lidamos com pessoas que estavam engajadas numa reavaliação revolucionária das leis do universo, assim como Picasso e outros artistas estavam envolvidos numa reavaliação revolucionária da arte estética, da representação visual, assim como Stravinsky, estava lá escrevendo toda a sua música e Marx, os comunistas e a Revolução Russa. Quero dizer, está literalmente reescrevendo todos os aspetos das regras pelas quais vivemos, sendo a física a mais radical de todas". Oppenheimer, depois de fazer sexo com a amante citou uma passagem do do texto hindu antigo Bhagavad Gita: " Agora me tornei a morte, um destruidor de mundos". Soa a um certo diletantismo, era como se sentisse um poder real.

O físico teórico que liderou o Projeto Manhattan e desenvolveu a bomba atômica para os EUA, rotulado de comunista, parece-me um homem angustiado, mulherengo, com poucas convicções e muitos demónios. O filme, no entanto, destrói o mito persistente de que os EUA não tiveram outra escolha a não ser lançar as bombas atômicas para encerrar a Segunda Guerra Mundial. Descobrimos que o Japão estava prestes a se render, o imperador simplesmente precisava salvar a face; o objetivo de irradiar Hiroshima e Nagasaki, em cidades distantes, não era para salvar o mundo, mas para mostrar aos soviéticos que os EUA possuíam a tecnologia para destruir o mundo. Mais de 70 cientistas que assinaram uma petição "Truman, não mande a bomba" que Oppenheimer impediu na sua imensa vaidade, persuadindo Edward Teller, o "pai da bomba de hidrogênio" a não apresentar a Truman a petição.  "Oppenheimer é como os filmes de Hollywood de Christopher Nolan, como sempre, vestidos com intrincados flashbacks, truques narrativos, floreios de edição pirotécnica e trilha sonora bombástica", comenta Eileen Jones.

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