domingo, 27 de junho de 2010

Chá de Limão

Casa de chá? Exactamente. Tomam-se ali as mais variadas qualidades de chá que é o forte da casa. A decoração, dominada pelo branco pincelado de verde, é cuidada e o ambiente relaxante. Não diria cosy, mas convida a trocar dois dedos de conversa ou a folhear uma revista. Em suma, apetece estar. A simpatia da Maria da Luz, a dona deste espaço, também contribui. A música é suave, não incomoda. Tem uns bolos inesquecíveis de marca caseira que se saboreiam com gula, perante os olhares aprovadores de dois Budas. Há um sopro de civilidade ali, difícil de encontrar nos vulgares cafés das Caldas da Rainha, cidade onde o Chá de Limão se instalou.

Que beleza?

Esta revista espanhola traz, dirigida por Rosa Olivares, traz sempre uns artigos interessantes. Neste número vale a pena ler a entrevista de Guillermo Pérez Vilalta, um artista plástico que emergiu na movida da década de 80, e um texto sobre o conflito da beleza fora de moda.

Billy Childish

É uma figura de culto, especialmente nos Estados Unidos. Recebeu elogios de Kurt Cobain e, mais recentemente, Jack White apareceu na televisão londrina com o nome de Billy gravado no braço. Este inglês (1959) com uma vida levada da breca já fez mais de duas mil pinturas, editou perto de cem discos, publicou quatro romances e inúmeros livros de poesia. Alcoólico desde os doze anos parou de beber aos trinta, mas agarrou-se a outros produtos que agravaram as suas neuroses. Tentou o suicídio, cortava-se com giletes mas nunca deixou de produzir as suas coisas. Em 1977 mergulhou na cena punk que se ajustava perfeitamente à sua angustiada rebeldia, tendo mesmo gravado um album com os Ramones. Viveu uma relação tumultuosa e promíscua com Tracey Emin, agora uma artista premiada pelo sistema contra o qual se insurgiam. Ela vendia as poesias dele nas ruas e com o dinheiro obtido embebedavam-se até cair. Ao fim de uns anos de loucuras, separaram-se. Foi Billy Childish que a incitou e escrever e a pintar. Lamenta agora vê-la envolvida num arte que é "lixo" e a fazer parte do espectáculo mediático. Fundador do movimento stuckist, lança manifestos críticos a desancar nos falsos "artistas" como Damien Hirst e outros escravos do mercado.
Billy Childish não é um génio da música ou da pintura. Nada disso. Mas aprecio gente assim que não busca os holofotes ou, num contexto mais pequenino, dar-se bem na vidinha.

Um leilão de arte

Ainda no rescaldo da minha visita a Nova Iorque. Estive no leilão anual de beneficiência promovido pela White Columns Gallery que é dirigida por Mathew Higgs, um curador competentíssimo com quem ao longo dos anos fui estabelecendo uma relação afável. Entre as obras dos inúmeros artistas participantes, impressionou-me uma pintura de Peter Doig com o título de Musicians of British Empire. Foi vendida por 62 mil dólares e era dedicada a Billy Childish, um amigo de longa data. Gostei.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Toalhas


A marca californiana American Apparel para comemorar a Gay Parade lançou uma linha de toalhas com fotografias estampadas de homens nus, em colaboração com a revista Butt. Cada peça custa 45 dólares.

A morte de Narciso

killing Narcissus é uma exposição dos finalistas do Master de Arte Contemporânea da Universidade Europeia, em Madrid, que está no espaço Off Limits. Matar o narcisismo da cultura ficcionada, alheia à realidade que implica a aceitação da velhice, da fragilidade, da morte e do fracasso.

Helen Levitt

Até 29 de Agosto, a Fundação MUICO de Madrid apresenta 120 imagens e um pequeno filme da fotógrafa americana Helen Levitt, falecida em 2009 com 96 anos. Cronista dos bairros populares de Nova Iorque, disparava a sua máquina fotográfica à queima-roupa captando pequenos instantes. No enquadramento sempre o quotidiano, as pessoas comuns, as cenas que o olhar reconhece. Foi também uma precursora do cinema independente.

Bret Easton Ellis

Há uns dias foi lançado Imperial Bedrooms, o novo livro de Bret Easton Ellis que revisita personagens de Less Than Zero, a novela com que se estreou na literatura em meados da década de oitenta. Entretanto já passaram 25 anos. Numa entrevista à revista Details, o eterno bad boy, conserva o mesmo cinismo da juventude. Magníficas as capas de Chip Kidd, o lendário designer gráfico.

Helen Mirren

Para promover o seu último filme Love Ranch, realizado pelo marido Taylor Hackford, a actriz inglesa surge nua numa sessão fotográfica da New York Magazine. Na discreta nudez dos seus 65 anos. Nesta película, que estreia no dia 30 de Junho, Helen Mirren interpreta uma personagem inspirada em Sally Conford, a fundadora do primeiro bordel legalizado nos Estados Unidos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

United Bamboo

A colecção de Outono/Inverno 2011 da United Bamboo, dominada pelos tons preto e cinza chumbo, tem um elegante toque clássico. Entrevistei esta dupla de designers, Miho Aoki e Thuy Pham, formada no FIT (Fashion Institute of Technology) de Nova Iorque em 1999, um ano depois de terem criado a marca que baptizaram com o nome de uma famosa tríade de Taiwan. Mantêm uma estreita colaboração com artistas plásticos e músicos, tanto assim que chamaram Vito Acconci para projectar a sua primeira loja em Tóquio.

Fucking the city

Délio Jasse

Inaugura a 24 de Junho na galeria Arte Contemporânea uma exposição com o título de"Identidades, Causas e Efeitos" do artista Délio Jasse. Nascido em 1980 na cidade de Luanda, este artista tem desenvolvido na área da fotografia e instalação um trabalho muito criativo. Vou lá estar.

Lost City

Acabou o blogue Lost City, uma voz crítica contra a progressiva descaracterização de Nova Iorque que está a perder o seu "it". Revoltado com a "inexorável marcha da cidade para a mediocridade", culpa o mayor Bloomberg, a sanha imobiliária e Wall Street que foram para a frente com o projecto de "uma metrópole homogénia, anódina, suburbana, branqueada, vulgar e terrivelmente cara". A imagem, a preto e branco, mostra a Grand Central Station na década de quarenta.
Nas cidades da África do Sul também aparecem visuais interessantes, longe das vulgares figuras que inundam os estádios de futebol. O blogue The Sartorialist deveria estar atento à street fashion daquele país onde a selecção portuguesa enfiou sete vezes a bola na baliza dos norte-coreanos. Sete, um número cabalístico.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Nadir Afonso

Para celebrar os 90 anos deste artista trasmontano, o Museu do Chiado dedica-lhe uma retrospectiva com incidência num período que vai até à década de sessenta. Sem Limites é o título da exposição que inaugura no dia 22 de Junho, às 19 horas, e onde estará presente a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.

Doc`s Kingdom

Este evento que conta com o envolvimento da Associação Filhos de Lumiére encerra no dia 20 de Junho com a sessão Cem Anos de Juventude, no Cine Teatro de Serpa. Na sessão serão exibidos diversos filmes realizados em 2009-2010.

David Salle

Acho que David Salle continua a fazer o mesmo que fazia no início da década de 80 quando se tornou uma celebridade. Estive na abertura da sua exposição que encerra no dia 26 de Junho. Continua a trabalhar com Mary Boone, a polémica galerista que abriu o seu primeiro espaço no 420 da West Broadway. Começou por apresentar jovens artistas americanos como Julian Schnabel, David Salle, Ross Bleckner, Robert Longo e depois abriu as portas aos alemães Baselitz e Kiefer que, juntamente com os italianos da transvanguarda invadiram Nova Iorque numa insólita operação da painting is back. Apesar do lado frívolo das inaugurações regadas a champanhe francês e da sua famosa colecção de sapatos de tacões agulha, revelou-se uma talentosa business-woman. Introduziu a sofisticação no Soho que se tornou um dos bairros mais chiques e caros de Manhattan. Soube tecer os fios do negócio e impor o estilo do sold out que se traduzia no aguçar do apetite dos coleccionadores pelo objecto desejado. Dotada de imenso charme contribuiu para que o chamado movimento neo-expressionista se impusesse como tendência, capitalizando a necessidade de renovação depois do cansaço da linguagem minimal e conceptual. Entretanto surgiram os anos 90 e as carreiras destas vedetas das artes plásticas esmoreceram. O meu interesse por Salle também esmoreceu. Ou melhor, desapareceu.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cartão Vermelho

Para Carlos Queiroz que não aquece nem arrefece, não adianta nem atrasa. É o típico empata.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Very Hot

Em underwear ou com jeans, Cristiano Ronaldo representa o corpo idealizado pelos mestres clássicos, agora revisto por uma câmara moderna. Escultura de carne, expressiva e sensual. Protagoniza a campanha de Giorgio Armani para o Outono/Inverno 2010-2011 que vai ser apresentada no dia 17 em Itália. Depois a imagem do atleta vai espalhar-se pelas cidades mais emblemáticas do mundo. Por cá, há quem morra de inveja da nossa vedeta planetária.

domingo, 13 de junho de 2010

Apartamento

Saíu mais uma edição da revista de interiores Apartamento que tem um design muito criativo e óptimas fotografias. É feita em Barcelona. Em Maio abriu, no East Village de Nova Iorque, a Tasca, um restaurante temporário dentro do estilo rústico que servia pão com tomate, risotto de espargos e outros pratos mediterrânicos. Os directores da publicação, Nacho Alegre e Omar Sosa, já desenvolveram projectos semelhantes em Berlim e Tóquio.

Fabolous

A polícia nova-iorquina investiga as ligações entre o rapper Fabolous, cujo verdadeiro nome é John Jackson, e o indivíduo misterioso que matou G-Babby (Gregory Brown, 22 anos) com três tiros pelas costas à saída do clube Amazuro, em Queens. De resto, a mãe do jovem assassinado no dia 13 de Março acusa Fabolous que cultiva o estilo gangster, envolvendo-se amiúde em brigas com armas de fogo. Em 2006 foi baleado numa troca de tiros junto do Justin`s, o restaurante de Sean Combs.

Miranda July

A cineasta indie e artista plástica colocou uma série de esculturas na Union Square, em Nova Iorque. Com o título de Eleven Heavy Thing, a instalação vai lá ficar até Outubro. Please do touch, pede-se.

The Dissolve

Inaugura no dia 18 de Junho e prolonga-se até finais de Novembro. The Dissolve, a oitava Bienal de Santa Fé comissariada por Daniel Belasco e Sarah Lewis, concentra-se no movimento. Inclui artes plásticas, dansa, música e cinema. Entre os artistas representados destacam-se Paul Chan, Cindy Sherman, William Kentridge e Raymond Pettibon. Para debater a "capitulação da arte face ao dinheiro" foi convidado Jerry Saltz. A coisa promete.

Jeff Koons

Can animals be gay? Pergunta-se nesta série conceptual saída do estúdio de Jeff Koons. Tão queridos, tão fofinhos num cenário tão idílico...tudo é possível.

Raymond Pettibon

Até 21 de Julho está na Gladstone Gallery em Bruxelas uma exposição dos novos trabalhos sobre papel deste artista americano que explora temas como desilusão, cepticismo, depressão e angústia. Nascido em 1957 é da geração do punk. A sua tarefa tem sido trazer à luz essa parte intangível que existe na solidão individual.

Rui Macedo

What`s the painting? Digo assim em inglês porque me soa melhor. No fundo é esta a questão do projecto artístico com o título de Puzzle This que Rui Macedo apresenta na Fundação D. Luís, em Cascais. Fez-me uma espécie de visita guiada no intuito de tornar visível o que estava diante dos olhos. Impunha-se decifrar os códigos simbólicos e culturais que os quadros contêm. Por vezes, a arte cruza-se com a literatura e a agudeza visual torna-se uma aliada da melhor erudição. Eis uma exposição que suscita perguntas.

sábado, 12 de junho de 2010

Art Basel

Começa já na quarta-feira. Feiras dos mesmos que se passeiam de cidade em cidade, feiras iguais às dos anos anteriores, servem para mostrar que se está lá. A arte de 2500 criadores internacionais concentra-se em Basileia. Das 300 galerias com presença confirmada, a esmagadora maioria são americanas. De Portugal vai Cristina Guerra. Será que o Rendeiro continua a bancar? Desculpem lá, vou tomar uma Alka Seltzer.

Em crise

Crise é já uma palavra inevitável. O que fazer? Ninguém sabe exactamente qual a estratégia a seguir, mas há quem dê palpites. As televisões andam excitadíssimas com o futebol e as mães áfricas. Avalanches de notícias repetitivas, intermináveis debates sobre tácticas, multidões ruidosas...o espectáculo está em marcha. Na distância confortável do sofá vou assistir ao jogo da Inglaterra-Estados Unidos. Que ganhe o melhor. Sobre o desfecho do Mundial torço pelo Brasil (já que a selecção de Carlos Queiroz vai ficar fora de combate muito rapidamente). Argentina e Espanha nem pó. Não suporto a arrogância dos "nuestros hermanos" nem o palhaço do Maradona que foi mafioso da Camorra italiana e agora se arvora em guevarista.

Zoe Leonard

Em tempos de crise quem não tem cão (igual=calcanhol) caça com gato. Na Canal Street, em Nova Iorque, encontram-se falsas malas Calvin Klein ao preço da chuva. Foto da artista nova-iorquina Zoe Leonard que já participou em duas Dokumenta Kassel.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Gottfried Helmwein

Artista e performer tornou-se uma figura de culto. William Burroughs disse dele maravilhas e Sean Penn considera-o um mentor. Segundo Norman Mailer é "um dos mais excitantes pintores da actualidade". Bem...não haverá aqui uma pontinha de exagero?

Ned Shatzer

A recente moda invasiva das barbas, bigodes e tufos de pelos no corpo tornou os homens feios. Foi um retrocesso estético. Não aprecio este suposto regresso à masculinidade de que o top model Ned Shatzer é um digno representante.

Sigmar Polke (1941-2010)

Morreu hoje, vítima de cancro. Fundou com Gerhard Richter o movimento Capitalistic Realism que era uma alusão irónica ao Realismo Socialista. Ambos os artistas alemães, nascidos na RDA de onde fugiram ainda adolescentes para o outro lado do muro, conseguiram afirmar-se no contexto da arte ocidental. Cronistas da vida quotidiana, visando aspectos sociais, assumiram-se como uma espécie de réplica germânica da pop art. É bom lembrar que, nas últimas quatro décadas, a Alemanha tem sido um foco artístico fundamental não só panorama europeu como ao nível internacional devido à força e originalidade das suas propostas, normalmente vinculadas à sua idiossincrasia.

Mercado da arte


Os galeristas em Nova Iorque não se queixam, antes pelo contrário. Alguns com quem falei dizem que o negócio vai de vento em popa. Cá na nossa terrinha já não é bem assim. As instituições não compram e os coleccionadores privados estão na retranca. Uma fonte segura garantiu-me que já há galerias com a corda no pescoço. Segundo o crítico americano Jerry Saltz "o mercado da arte é menos ético do que o stock market". É evidente, basta ver os Rendeiros e outros que tais.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Chocolate Bar

Em Nova Iorque viciei-me nos chocolates de Alison Nelson que tinha um pequeno espaço na Oitava Avenida, entre a Jane e a Horatio. Eram deliciosas e nada caras as tabletes com rótulos criados por artistas plásticos emergentes como Gary Baseman e David Horvath. Havia até uma série dedicada ao CBGB, a mitológica catedral do rock. Ainda pensei fazer uma colecção destas peças de arte, mas não resistia à tentação e acabava por as devorar. Em 2008 o Chocolate Bar, empurrado pelos elevados aumentos dos arrendamentos, mudou-se para o East Village. Fui logo lá saciar a gulodice. Desta vez fiquei frustradíssima porque a casa tinha fechado. Agora fiquei mais animada, quando soube que voltou para o Meatpacking District. É uma boa notícia.