segunda-feira, 3 de junho de 2013

Food, SoHo & Matta-Clark

Revi ontem à noite na televisão o filme After Hours do cineasta Martin Scorcese. Muito divertido, as coisas que acontecem a um indivíduo comum que caiu no SoHo, um bairro habitado na década por uma fauna artistas loucos e sem cheta. Hoje tornou-se um lugar caríssimo que atrai os turistas do "party is over", só chegam lá quando a festa já acabou. Quando fui pela primeira vez a Nova Iorque em 1972, era uma zona de cargas e descargas, ruidosa durante o dia e que à noite ficava deserta com um aspecto medonho. Havia apenas quatro ou cinco galerias e um restaurante, o mítico Food onde se reunia toda a boémia artística que de uma forma ou de outra explorava a metáfora na arte. Caroline Goodden, escritora e bailarina, e o escultor Gordon Matta-Clark fundaram esse espaço. Quem me levou lá foi um brasileiro, poeta e professor de filosofia na New York University, que viria a morrer com Sida na década de oitenta. Matta-Clark convertia edifícios abandonados em esculturas. O último projecto de que se ocupou, e deixou inacabado quando morreu em 1978 de cancro, foi o do bairro hispânico Loisada onde pensava intervir com a colaboração dos residentes. Os seus trabalhos eram experiências viscerais. A arte dos anos 70 não fornecia respostas, formulava perguntas, convidava à introspecção pessoal, mais do que ao desfrute visual.
 

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