Morreu
Lou Reed. A sua música repleta de palavras é o eco da sua vida abismal. Os seus lendários excessos nos anos 60 e 70, época que passou num estado de aturdimento químico, marcaram-lhe a biografia. Nasceu em Brooklyn e cresceu em Freeport, no estado de Rhode Island. "De uma cidade pequena só há um detalhe positivo: sabes que a odeias e terás de sair dali", comentou num dos temas de
Songs for Drella, o requiem por
Andy Warhol, que gravou com
John Cale. Rígidos e conservadores, os pais de
Lou tentaram afastá-lo da música e das companhias indesejáveis. Aos 17 anos foi submetido a um tratamento de electrochoques. Era também a prática recomendada para reprimir qualquer inclinação homossexual. Em 1961 foi admitido na universidade de Syracuse onde teve como professor o poeta
Delmore Schwartz que o animou a escrever. Licenciou-se com excelentes notas e conseguiu um emprego na editora
Pickwick Records, em Nova Iorque. De dia escrevia canções escuras com títulos insólitos como
Johnny can`t surf no more e à noite trabalhava num conceito musical duro e penetrante, acentuado pelo zumbido da viola de
John Cale. Juntos fundaram os
Velvet Underground. Um som inacessível que surpreendia os frequentadores do
Café Bizarre onde
Andy Warhol descobriu a banda. Em 1973, já fora do grupo, lançou o disco
Transformer que inclui o icónico
Walk on the wild side. Depois veio o período da imolação. Aumentou o consumo de heroína, chegando mesmo a injectar-se no palco, e pintou as unhas de negro a condizer com o vestuário. Seguiram-se os desastres comerciais, entre eles
Metal machine music, sessenta minutos de tortura electrónica. Nos anos 80 empenhou-se no refazer da vida profissional e afectiva. Lançou vários álbuns excelentes, sendo de destacar
Growing up in public e sobretudo o politizado
New York. Mais tarde o casamento com
Laurie Anderson também o ajudou a afugentar os fantasmas.
Lou Reed foi uma pessoa que atravessou o fogo e que aprendeu a amar as chamas.