quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Pedro Costa

O filme “Vitalina Varela”, do realizador português Pedro Costa, vai ser exibido no Festival de Cinema de Nova Iorque que há alguns atrás frequentei. Uma das vezes até encontrei lá, no Lincoln Center, o Bernard da Costa. O filme que fará a estreia mundial no Festival de Cinema de Locarno (Suíça), no próximo dia 14, integrado na competição internacional, é incluído no festival de Nova Iorque com a garantia de distribuição no circuito norte-americano no começo de 2020, pela distribuidora independente Grasshopper Film. O critico americano de cinema Richard Brody, residente há anos na revista New Yorker, é um grande admirador de Pedro Costa. Descobriu-o em Paris, um cinema do Quartier Latin onde depois da exibição houve um debate com Jean-Marie Straub, um amigo de Pedro Costa. Um espectador perguntou se o filme "O Quarto de Wanda" era ficção ou um documentário. Straub ridicularizou o espectador e respondeu com um comentário arrogante: O que é isso de documentário? Quanto ao cinema de Costa com a sua visão sobre a classe trabalhadora pobre e imigrante das barracas e dos gethos, compreendo e admiro sobretudo a personalidade deste realizador que nos anos 80 alinhava com o movimento punk. Mais Sex Pistols do que Clash. E sobretudo da atitude de Johnny Rotten Deve ser o único cineasta português que me faz deslocar ao cinema. E, devo confessar que sou uma grande cinéfila, o meu avô que era anarquista e andou na brigada Durruti fundou um cinema no Alentejo. "A atitude implacável, política de Straub, mais do que o Godard empre teve a ver comigo. Eu sou capricórnio e os capricórnios nascem velhos", afirmou Pedro Costa numa entrevista.. Na minha roda de amigos sempre fiz essa  pedagogia. Sou um fanático de Straub que está mais próximo da minha estrutura, da minha construção."
Pedro Costa, com quem me identifico e já agora também sou capicórnio, fez um filme sobre Jean-Marie Straub que classifica "obra de um fanático, de rock. "Filmei uma história de amor perfeito à maneira do antigo cinema de Hollywood. No cinema ou na vida qualquer história de amor acaba mal. Gosto de fazer coisas diferentes. Os meus filmes tem mais a ver com sentimentos do que com pessoas. São muito construídos, mas tentam estar perto de uma certa verdade". A verdade de Pedro Costa tem a ver com a  minha. Ele afirmou que “em Portugal e noutros países,, há falta de consciência de muitas coisas, e há um oportunismo e uma ignorância a todos os níveis. "Temos uns parolos, uns pacóvios e uns ignorantes que fazem um cinema que não se diferencia da televisão mais bruta, mas que sobretudo não é comercial, ou seja, nem sequer rende na bilheteira para que se possa reproduzir esse modelo, portanto, eles vivem tal como eu vivi, e outros meus colegas vivem, de apoios.
"Havia um pequeno mundo punk em Portugal e eu andava por aí. Também tocava. A nossa atitude era uma coisa que acho que deixou de existir: um bocadinho política por um lado, agressiva – selvagem, às vezes… –, muito provocatória. Éramos sempre do contra, cuspíamos em toda a gente, andávamos muito à pancada. Era uma atitude! E, sem querer ser muito exagerado, quando chegámos à escola de cinema com isso, aquilo produziu o seu efeito. Especialmente no António Reis, que nos disse: “Façam o que quiserem, vocês têm razão. Escrevam aí nas paredes... Portugal é um país muito marcado, que ainda não teve tempo de se libertar do séc. XX, um período muito manhoso, muito chato. Eu vivi isso. Para se conseguir juntar 300 pessoas para protestar ou reivindicar alguma coisa, é uma loucura. Isso parte-me o coração. Basta olhar para a Catalunha, ou para Valência e, se há um problema, juntam-se 6000 pessoas de repente e, se for preciso, partem uma esquadra de polícia. Mas cá, antes de se fazer alguma coisa, vamos beber uma cerveja e: “ah, o meu pai”; “ah, a minha carreira”; “ah, o dinheirinho”; “ah, o meu carro”. 
Ne change Rien, (2009) é o título de um filme feito por Pedro Costa sobre a música Jeanne Balibar. É verdade. Não muda nada.

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