Sem sombra de dúvida. Existe na pintura de
Lino Damião (Luanda, 1977) uma identidade africana. Além das exposições, bienais e outros eventos artísticos, convém contextualizar o passado e o presente deste artista que adquiriu toda a sua formação em Angola. Face aos efeitos tecnológicos e aos grandes formatos que se impuseram no mercado da arte não deixa de ser fascinante deparar com uma vibrante realidade cromática onde se impõe uma espécie de signos representativos de conceitos mágicos que remetem para culturas ancestrais. No seu atelier-galeria de Lisboa acumulam-se telas, desenhos e quadros que constituem fragmento a fragmento a memória de um percurso. Olhando as obras, sem pretensões analíticas, diria estar perante uma linguagem que realça o poder expressivo da linha e da cor.
WB-Como é que descobriu a arte num país destroçado pela guerra?
LD-Comecei a desenhar com nove anos encorajado pelo meu pai que trabalhou como fotógrafo no
Jornal de Angola. Encontrei alguns livros de arte em casa que me despertaram a curiosidade.
WB- No início a expressão artística dos artistas angolanos estava marcada pela mensagem política. Havia uma necessidade de afirmação nacionalista.
LD-Sim, mas depois essa atitude foi-se suavizando e actualmente já não é assim.
WB-Quando aborda a tela em branco já tem um plano estabelecido?
LD-Tenho um esboço. A partir daí viajo na tela, deixo simplesmente as coisas acontecerem.
WB-Como define o seu trabalho?
LD-Contem uma carga do imaginário trazido de Angola, mas já utilizo outras técnicas. Aparece quase sempre aquela figura sem pescoço a que chamo cabeça no ar.
WB- E quanto à sua colaboração com a produtora
JJ Jazz que organiza concertos em Luanda?
LD-Contratamos sobretudo músicos dos Estados Unidos e da América Latina. A música angolana, em particular a
semba, influenciou a minha pintura.
WB- Aprecia hip-hop?
LD-Não tanto.
WB- Em Angola há uma elite com muito dinheiro, suponho que já exista um florescente mercado da arte?
LD-A 1ª Trienal da Arte contribuiu para um arranque do mercado. Nunca vi tantos coleccionadores de arte em Luanda. É óptimo.