Os maus da fita

"As elites governantes estabelecidas sabem que há uma crise. Eles concordaram, pelo menos temporariamente, em investir dinheiro nisso com a conta da Covid-19 de US $ 1,9 trilião conhecida como American Rescue Plan (ARP). Mas o ARP não alterará as desigualdades estruturais, seja aumentando o salário mínimo para US $ 15,00 a hora ou impondo impostos e regulamentações às empresas ou à classe bilionária que viu sua riqueza aumentar em espantosos US $ 1,1 trilião desde o início da pandemia. O sistema de saúde permanecerá privatizado, o que significa que as seguradoras e as empresas farmacêuticas vão colher dezenas de biliões de dólares com o ARP - e isso quando já estão tendo lucros recordes. As infindáveis ​​guerras no Oriente Médio e o inchado orçamento militar que as financia continuarão a ser sacrossantos. Wall Street e os especuladores globais predatórios que lucram com os níveis maciços de escravidão por dívida impostos a uma classe trabalhadora mal paga e saqueiam o Tesouro dos EUA em nosso capitalismo de cassino continuarão a direcionar dinheiro para cima nas mãos de uma pequena cabala oligárquica. Não haverá reforma do financiamento de campanha para acabar com nosso sistema de suborno legalizado. Os gigantescos monopólios de tecnologia permanecerão intactos. As empresas de combustíveis fósseis continuarão a devastar o ecossistema. A polícia militarizada, a censura imposta por plataformas de mídia digital, vasto sistema prisional, leis cada vez mais severas destinadas a coibir o terrorismo doméstico e a dissidência e a vigilância do governo por atacado serão, como eram antes, os principais instrumentos de controle do Estado.

Mas o que acontece com a maioria dos americanos, que obtém apoio do governo por apenas alguns meses? O que eles devem fazer quando os cheques param de chegar no final do ano? O governo federal irá orquestrar outro grande pacote de ajuda? Eu duvido. Estaremos de volta ao ponto de partida. 

Recusando-se a abordar as causas profundas da podridão da América, ao deixar de injectar vida nas instituições democráticas que antes deram voz ao cidadão, embora limitada, e possibilitaram reformas graduais e graduais, ao não abordar a severa desigualdade econômica e social e deslocamento que aflige pelo menos metade do país, a anomia e os laços sociais rompidos que deram origem a um demagogo como Donald Trump irão se expandir. O império americano não estancará a sua desintegração. As deformidades políticas formarão metástases. 

As elites estabelecidas fingem que Trump era uma anomalia bizarra. Eles ingenuamente acreditam que podem fazer Trump e seus apoiantes mais vociferantes desaparecerem, banindo-os das redes sociais. O  Antigo Regime irá, eles afirmam, retornar com o decoro de sua presidência imperial, respeito pelas normas procedimentais, eleições elaboradamente coreografadas e fidelidade às políticas neoliberais e imperiais. 

Mas o que as elites governantes estabelecidas ainda precisam compreender, apesar da estreita vitória eleitoral que Joe Biden teve sobre Trump e da tomada da Capitólio em 6 de janeiro por uma multidão enfurecida, é que a credibilidade da velha ordem está morta. A era Trump, se não o próprio Trump, é o futuro. As elites governantes, representadas por Biden e o Partido Democrata e a ala educada do Partido Republicano representado por Jeb Bush e Mitt Romney, estão indo para a lata de lixo da história.

As elites coletivamente venderam o público americano ao poder corporativo. Eles fizeram isso mentindo para o público sobre as consequências do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), acordos comerciais, desmantelamento da previdência social, revogação da Glass-Steagall, imposição de medidas de austeridade, desregulamentação de Wall Street, aprovação de leis de crimes draconianos, lançamento de guerras sem fim no Médio Oriente e resgatando os grandes bancos e firmas financeiras, em vez das vítimas de suas fraudes. Essas mentiras foram muito, muito mais prejudiciais ao público do que qualquer uma das mentiras contadas por Trump. Essas elites foram descobertas. Eles são odiados. Eles merecem ser odiados". (Chris Hedges-Sheerpost)