O lado negro de
Bernado Paz. Foi acusado de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, violações ambientais e de trabalho infantil nas suas minas. Mas o coleccionador brasileiro continuou a viver numa mansão repleta de arte junto do museu a céu aberto que construiu em Inhotim, Minas Gerais. Foi condenado a nove anos e três meses de prisão por evasão fiscal, segundo reportou o
New York Times e a
Folha de São Paulo. É acusado de desviar parte dos 90 milhões de dólares arrecadados no exterior para o seu centro cultural para financiar as suas outras empresas. Mas, segundo o NYT, os indivíduos condenados por crimes de colarinho branco no Brasil geralmente permanecem livres até que a condenação seja confirmada por um tribunal de apelação. "Muitos artistas defenderam o coleccionador, alegando tratar-se de um acto político e não de um facto legal”, disse
Allan Schwartzman, um assessor de longa data de Paz e director criativo do Inhotim". O museu de Inhotim, inaugurado em 2006, tornou-se uma referência mundial no universo da arte. Numa área de 97 hectares, espalham-se pavilhões encravados na natureza, com obras de artistas contemporâneos como Adriana Varejão, Ernesto Neto, Tunga, Anish Kapoor, Miguel Rio Branco, Yayoi Kusama, Olafur Eliasson, Matthew Barney e Beatriz Milhazes e outros incluídos numa lista de 500 obras de 100 figuras de 30 nacionalidades.
Depois do divórcio de
Adriana Varejão, voltou a casar pela sexta vez com
Arystela Rosa de 31 anos. Tem sete filhos de várias esposas e vendeu a sua mineradora
Itaminas por 1,2 bilião de dólares. O governo brasileiro começou a investigar o homem que enriqueceu comprando empresas de mineração falidas. Sardenberg aconselhou-o a adquirir arte, quando assistiam ao ataque das torres gémeas. Assim que os vôos para Nova Iorque foram retomados, eles foram até lá. As galerias de Chelsea vendiam peças baratas, era o momento certo. Adquiriu esculturas e instalações de artistas contemporâneos pelo preço de "uma banana", segundo Sardenberg. Foram gastos 70 milhões em Inhotin. De acordo com a revista
Wallpaper, é "um diálogo único entre arte, arquitetura e natureza". E atrai milhões de turistas. Mas Inhotim também está ligado ao dinheiro sujo no mercado de arte. Nos últimos meses de 2017, Paz foi condenado por evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Várias irregularidades ajudaram a financiar o seu grande projeto. Quebrou uma série de leis ambientais e até se beneficiou do trabalho infantil para construir a sua fortuna."Sou um homem de poucos prazeres, um deles é o sexo", afirmou numa entrevista. Define-se como socialista e zomba da ostentação de outras pessoas ricas com os seus iates e jactos particulares.
Chegou a ter 29 empresas, mas nenhuma estava cotada em bolsa. "A minha vida financeira é uma bagunça. Sou um tipo que luta por um ideal", comentou. Depois da condenação renunciou à presidência do museu de Inhotin. O reinado de
Bernardo de Mello Paz ruiu. Foi condenado em primeira instância a nove anos de prisão por lavagem de dinheiro. Quatro meses depois foi condenado a outros cinco anos por evasão fiscal. Uma investigação publicada na revista
Bloomberg Businessweek, com a assinatura de
Alex Cuadros, autor do best seller
Brazillionaires, revela que a fortuna de Paz foi construída à base de trabalho infantil e escravo, desmatamento ilegal e grilagem de terras. Um funcionário afirma que a estrutura, sobrecarregada, foi construída sem uma planta adequada. Duas décadas depois, outras violações foram reveladas. Em 2007, descobriu-se que uma das fornecedoras de carvão das empresas de Paz empregava 36 pessoas em condições análogas à escravidão. Os trabalhadores eram obrigados a comprar as suas próprias serras-elétricas e viviam num local infestado de escorpiões. No ano seguinte, algumas das empresas de Paz tiveram que pagar mais de 13 milhões de dólares em multas pelo uso de carvão proveniente de desmatamento ilegal. Em Abril deste ano, comprometeu-se a transferir a posse de 20 obras expostas no seu museu para o governo, o equivalente a 100 milhões de dólares em impostos atrasados. Todavia, convenceu o governo a mantê-las em Inhotim. Trata-se do “truque mais brilhante da sua carreira: decidir como os impostos que nunca pagou devem ser gastos", conclui o repórter.
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