sábado, 23 de setembro de 2017

Charlatã intelectual


Hoje o Queer Festival de Lisboa 21 acolhe o lançamento da tradução portuguesa de Gender Trouble, de Judith Butler, com a chancela da Orfeu Negro. Editado pela primeira vez em 1990, este livro descarta a ideia de sexo e género como categorias fixas, vendo-as como produto do artificio social. A autora, herdeira do obscurantismo da escola francesa (Deleuze, Derrida) que considero uma perfeita fraude, introduziu o conceito de género performativo. Para Butler os conceitos binários de "natureza feminina e feminina" não passa de uma ficção social. Recebeu o prestigiado Prémio Adorno, o que provocou inúmeras criticas. Há quem a qualifique de charlatã intelectual. Em 1998 ganhou um outro prémio menos desejável da revista Philosophy and Literature que "celebrava as passagens estilísticas mais lamentáveis encontradas em livros e artigos académicos". A filósofa americana Martha Nussbaum escreveu um artigo na New Republic a desancar na pseudo-intelectual pós-estruturalista. "Butler não nos dá nenhum programa político significativo, escreve mal, as suas ideias são falsas e os seus argumentos negligenciam o facto material. É uma niilista que quer negar todas as normas. A sua prosa impenetrável não serve para desafiar o senso comum, mas para proteger o vazio das suas ideias", afirmou. Slavoj Zizerk também não a aprecia. "Ela gosta de nos citar, os lacanianos, como se fôssemos do mainstream. Mas se observarmos a instituição académica como campo de poder, veremos que Butler é extremamente poderosa. Tem capacidade para nomear gente, de fazer com que os livros sejam publicados, enquanto nós somos criticados como teóricos do patriarcal". Camile Paglia também arrasa o trabalho de Butler: "Não passa de retórica. Não se baseia em estudos de biologia, história ou antropologia. Limita-se a repetir fórmulas francesas vazias de significado". Definiu-a como uma slick, super-careerist Foucault flunky."Qualquer teoria do género que não consiga reconhecer o poder imenso das hormonas sexuais é um absurdo. O pós-estruturalismo não enxerga a grandeza da natureza. Desprezo o jargão confuso de oportunistas académicos como Butler que fizeram uma enorme fortuna. Mas os seus livros pretensiosos saturam o currículo feminista em toda parte".
Judith Butler baseou-se em Foucault com foco na natureza de género culturalmente construída, assim como Edward Said teve um papel semelhante no pós-colonialismo. Há quem considere que os intelectuais franceses do pós-modernismo arruinaram o Ocidente. Os físicos Alan Sokal e Jean Bricmon referem o absurdo da coisa: "Existe algo de muito estranho na crença de que, ao olhar para as leis causais ou uma teoria unificada, ou perguntando se os átomos realmente obedecem às leis da mecânica quântica, as actividades dos cientistas são inerentemente burguesas ou euro-cêntricas ou masculinistas ou mesmo militaristas". O pós-modernismo é uma ameaça para a ciência? Lembremos os protestos contra uma palestra dada por Charles Murray em Middlebury onde os manifestantes gritaram: "A ciência sempre foi usada para legitimar o racismo, o sexismo, o classismo, a transfobia, o poder e a homofobia. No mundo de hoje, não há verdades nem factos".
Como salienta Kenan Malik a extrema-direita agora usa a política da identidade e do relativismo de uma maneira muito semelhante à esquerda pós-moderna. "Quando eu disse que a ideia dos chamados factos alternativos se baseia num conjunto de conceitos que nas últimas décadas foram usados ​​por radicais não estava sugerindo que Steve Bannon, e ainda menos Donald Trump, tenham lido Foucault ou Baudrillard ... Os meios académicos e da esquerda nas últimas décadas ajudaram a criar uma cultura na qual as visões relativizadas dos factos e do conhecimento tornaram mais fácil para a estrema direita não apenas a apropriação, mas também a promoção de ideias reaccionárias". Helen Pluckrose, investigadora americana de Humanidades, critica do pós-modernismo e do construtivismo cultural, sublinha: "A nossa crise actual não é de esquerda versus direita, mas de consistência, razão e liberalismo universal versus inconsistência, irracionalismo, certeza zelosa e autoritarismo tribal. O futuro da liberdade, da igualdade e da justiça parece igualmente sombrio se a esquerda pós-moderna ou a direita pós-verdade ganha essa guerra. Aqueles que valorizam a democracia liberal e os frutos do Iluminismo e da Revolução Científica e da própria modernidade devem oferecer uma opção melhor".

Sem comentários: