"A evolução do caso Kevin Spacey justifica que pensemos um pouco sobre aquilo que está a acontecer. Acima de tudo, importa perceber se estamos realmente a pensar — ou se nos limitamos a reproduzir, em equívoca euforia, aquilo que é voz do povo (a que deveríamos chamar voz dos media, de tal modo a noção de “povo” quase só aparece, nos nossos dias, instrumentalizada por discursos de avassalador simplismo político — sendo Donald Trump o protótipo dominante — que encontram um eco automático, irresponsável e irreflectido, em muitas linguagens de informação)....
. ..Difícil de pensar é também, por tudo aquilo que aqui apenas se resume, o enquadramento político do tribunal público que condenou Spacey — político, quer dizer, envolvendo a complexa vivência do colectivo e a incontornável irredutibilidade individual. Na verdade, os protagonistas encartados de tal tribunal, incapazes de qualquer pensamento político, confundem-se, muitas vezes, com os que reduziram Donald Trump a uma caricatura do mais anedótico e pré-histórico moralismo: mesma abordagem maniqueísta dos factos, mesmo apagamento da complexidade intrínseca de qualquer facto, mesma procura de encenação do mundo como um frente a frente de “anjos” e “demónios”. Em boa verdade, agora mais do que nunca, Trump deve estar agradecido a tão empenhados inimigos: se ele não conseguir consumar o seu trabalho de purificação da América (e do mundo), outros avançam — desde que seja possível contemplar Kevin Spacey a arder na crepitante fogueira da nossa inocência, está tudo bem". (João Lopes -Sound+Vision, uma das vozes mais lúcidas deste país)
adios amigos
Há 9 anos
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