sábado, 31 de dezembro de 2016

Qual feminismo?


Madonna fez um inflamado discurso sobre sexismo, idade e misoginia na Billboard Women in Music. Mas a feminista Camille Paglia, uma das intelectuais mais relevantes e lúcidas do mundo, desmontou aquela patética performance. "Em vez de lúgubres rancores e histórias de recriminações, talvez devesse tentar uma autocrítica honesta. É uma das artistas mais criativas e influentes mulheres da era moderna. Transformou a música e produziu vídeos impressionantes que se destacaram entre as principais obras de arte do final do século XX. Quebrou o poder das puritanas estalinistas do feminismo da velha guarda e foi instrumental no triunfo do feminismo pró-sexo na década de 1990. Por isso, é verdadeiramente trágico ver Madonna descer em exibições embaraçosas de auto-piedade e acusações irracionais contra os outros. Ela está se transformando numa horrível combinação da delirante e vampirica Norma Desmond e a amarga Joan Crawford da garrafa. Fui a primeira grande defensora de Madonna, quando ela ainda era considerada uma galdéria pop e um fantoche criado por produtores masculinos sombrios. Em 1990 no New York Times elogiei o seu trabalho. É ridículo que agora venha dizer que desejava aliar-se com outras mulheres no início da sua carreira e não encontrou receptividade. Por exemplo, em 1994, a revista Esquire pediu-me que a entrevistasse para uma capa, mas ela rejeitou a proposta. Então, convidaram o romancista geriático Norman Mailer que não sabia nada sobre música popular, com resultados previsivelmente vagos. A televisão HBO queria filmar Madonna conversando comigo num restaurante e ela recusou a proposta. A Penthouse também propôs uma história de capa conjunta que não foi editada. A verdadeira questão é que, embora as tournés mundiais de Madonna tenham sido muito bem-sucedidas, o seu desenvolvimento artístico está paralisado há 20 anos. O último trabalho verdadeiramente inovador que fez foi com o produtor de electrónica William Orbit. Tornou-se uma prisioneira da riqueza e da fama. As suas ideias mais autênticas foram inspiradas pela sua rebelião na adolescência contra o código repressivo do catolicismo americano. Quando mudou para a Kabala chique de Hollywood, com sua ética fácil, perdeu o seu impulso criativo. Colecciona arte por puro exibicionismo mas obviamente não ampliou ou aprofundou a sua imaginação. A questão número actual é a sua incapacidade embaraçosa para lidar com o envelhecimento. Não conseguiu seguir o exemplo de Marlene Dietrich que manteve a classe e estilo até o fim. Madonna continua perseguindo a juventude, humilhando-se com exibições vulgares, como a horrenda roupa trashy que usou no Metropolitan Museum of Art Gala. Tornou-se um pastiche com as extensões de cabelo louro e artificial, as bochechas inchadas que obscurecem a magnífica estrutura óssea clássica que fez dela uma das celebridades mais fotogénicas da década de 1990. Na sua luta para permanecer relevante, degradou-se com Instagrams adolescentes e ineptos que não pode competir com o trabalho brilhante de Rihanna nesse género". (Via Daily Mail)
Camille Paglia não falou da degradante declaração pública de fazer "broches", prática em que era mesmo boa, aos que votassem em Hillary Clinton. Sim, da rainha da pop. Perdão, da ordinarice barata barata. Qual feminismo? Qual transgressão? Não confundir as coisas. E já agora a foto.

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