O filósofo e escritor italiano Franco Berardi (Bifo) realiza uma das análises mais lúcidas e comovedoras da actual pandemia que “poderia abrir a porta ao autoritarismo “tecnocrático” ou “criar um efeito de frugalidade que pudesse mudar o mundo”. Professor durante décadas em Bolonha, cidade onde nasceu e reside, Berardi, vindo da tradição marxista, continua reivindicando o internacionalismo. Na actualidade, propõe a interconexão solidária de trabalhadores do conhecimento e artistas numa plataforma que deixe para trás o Facebook e o Google. Foi militante do Lotta Continua, grupo emblemático do autonomismo radical italiano. "A explosão da pandemia é a demonstração evidente do facto de que o imprevisto sempre muda as perspectivas do inevitável. O futuro não é apenas o que está inscrito como probabilidade no presente, é também uma quantidade de outros desenvolvimentos “possíveis”, ainda que pouco prováveis. No nosso futuro próximo, existe a probabilidade de uma volta totalitária, sombria, agressiva, mas também há outras possibilidades, por exemplo, a possibilidade de um relaxamento do sistema nervoso do corpo planetário, uma disposição frugal e igualitária, uma redistribuição da riqueza existente e uma produção mais compartilhada e mais relaxada do útil que necessitaremos".
Bifo também disse que podemos estar no limiar de uma forma tecnototalitária."Provavelmente a reclusão generalizada irá gerar um sistema mais autoritário, tendencialmente tecnototalitário, mas para mim interessa mais fotografar o “possível” que esta situação nova oculta. Felix Guattari fala de espasmo cósmico para definir a transição da época moderna do capitalismo e da economia expansiva. Há um espasmo, uma contracção dolorosa do corpo colectivo que vivemos por muitos anos. A revolta global dos jovens de Santiago do Chile, Hong Kong, Beirute, Paris, Barcelona, Quito, em 2019, foi um sintoma desta contracção convulsiva. Depois, de repente, o silêncio. E agora estamos tentando retomar a respiração: a solidariedade, o contrário da competição.
Franco Berardi distingue a crise da pandemia da crise de 2008. "O factor anti-sistémico: o corpo humano. A crise de 2008 era o efeito artificial de um desequilíbrio na relação entre o lucro financeiro e a produção de mercadorias. A crise de hoje não tem nada a ver com a dimensão financeira (ainda que a faça explodir): é uma crise do corpo humano, uma rebelião dos pulmões, do sexo, do coração, das pernas, do estômago, da garganta, dos olhos, do ouvido, do olfacto. Da respiração. O capitalismo financeiro não pode curar esta doença, só o corpo mesmo, e a mente, podem curá-la: respirando".
adios amigos
Há 9 anos
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